sábado, 5 de abril de 2014

MEUS TEXTOS FAVORITOS: Análises, pensamentos, comentários. #1

 Como eu disse, teria um pouquinho de tudo por aqui.
 Sim, com "tudo", incluí também o conteúdo de poemas.
 Devo dizer que não sou fã de muitos. Na verdade, não gosto muito de poetizar. Faço isso só de vez em quando, para encher linguiça ou tornar minhas frustrações mais bonitas. E acho que é por isso que não gosto muito de bancar a poetisa: detesto disfarçar sentimentos, mascarar coisas, iludir as pessoas. Nem minhas próprias sensações, eu gosto de deixar por debaixo dos panos. Mas enfim.
 Apesar de não ser uma leitora assídua deste tipo de texto, assim que minha atual professora de Língua Portuguesa começou a entrar nesse assunto durante as aulas, parei por algum tempo para pensar em quantos poemas, textos no geral, posso realmente dizer que me descrevem. Que posso dizer que realmente amo e que me causam algum sentimento profundo, intenso, sempre que leio, paro para checar um pouquinho.
 Depois de encontrar alguns nomes notáveis, decidi procurar pelo poema com o qual mais me identifiquei nos últimos quatro anos (quando achei a peça em algum canto da vida). Assim que li, lembro de ter pensado em como isso sempre fez parte da minha vida, simplesmente por combinar tanto com ela.
 É um poema de Edgar Allan Poe (cujo retirei, traduzido, do blog "Devaneios ao vento")


Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.

Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.

Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alteava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demônio, ante meus olhos.

 Muito bem. Lembra do que eu disse sobre sentir que esse poema combinava tanto com a minha vida? Então. Bate com a minha infância, principalmente.
 Não, eu não era uma criança estranha. Quer dizer, não muito. Grande demais para a minha idade, gorda também... Mas são apenas detalhes. O que realmente quero apontar na primeira estrofe deste poema, é a forma como Edgar diz que quando era criança, não tinha os mesmos interesses que o resto da criançada. Ponto a favor em semelhança, com este texto. Sabe, nunca tive gostos excêntricos, ou que posso dizer que eram muito diferentes de gente da minha idade, mas sempre tive ideias bem singulares. Mesmo tendo uma cabeça infantil, pensava a anos luz das outras pessoinhas da mesma faixa etária. Algumas coisas que eles faziam, me incomodavam. Eu não via necessidade naquilo. E minhas paixões eram outras. Os filmes sangrentos que mamãe assistia, ou programas interessantes (Como X-Tudo ou algum que passasse informações, como de culinária ou sobre o mundo animal) que passavam na minha fabulosa TV Cultura. Gostava de desenhos com uma pegada mais sombria (Como "O Coronel e o Lobisomem", um desenhinho cantado que passava na Cultura, contando a história que dava título à criação), ou sabe-se lá mais o quê.
 Também tive motivos diferentes das outras crianças, para ficar triste. Algo como quando meu padrasto chegava bêbado em casa, para discutir com a minha mãe, que ficava mal durante o dia seguinte todo. Ou quando todas as pessoas (aka meninos davam mais atenção à minha irmã, por ser bonita e mais velha), e esqueciam que eu também era uma menina, mas que queria brincar e não ficar ouvindo sobre como outras garotas podiam ser muito mais fascinantes. Também temia e ficava triste por sabe-se quanto tempo, em dia de tirar sangue. Porque eu tinha tanto problema no corpo, com aquela idade, por ser gordinha demais, que eu entrava em pânico na época dos exames.
 Entretanto, eu também ficava feliz com coisas bem distintas. Um caderno novo, com lápis para desenhar e pintar, ou qualquer coisa comprada na padaria mais próxima. Ver minhas amigas, estudar. Porque sim, eu amava ir à escola, mesmo com as pessoas me xingando dos mais variados nomes, por causa do meu tamanho ou inteligência.
 Nada fora do normal, como já ressaltei. Não há nada de extraordinário em mim. Mas é como me sinto em relação à primeira estrofe.
 "Tudo que amei, amei sozinho". Até hoje, em quinze anos, esta frase aplica-se inteiramente à mim. Não deixou de se aplicar, na verdade, nem por um segundo sequer. O que quero dizer é que apesar de algumas pessoas dizerem que sentiam determinadas coisas por mim, indiscutivelmente, eu amava, sentia mais, do que todas elas. Ou menos. Isto fazia, e ainda faz, com que eu sinta sozinha, até os dias atuais. Há também o lado mais óbvio e mais depressivo, dramático, da frase: amar e apenas isto. Não ser amado. Outro sentido dado à minha vida. Das duas pessoas por quem me apaixonei perdidamente, nenhuma delas retribuiu o sentimento. E dentre os meus amigos, novamente, eu creio ser a única que ama por ambas partes: a minha e a deles.
 Foi também na fase meio perturbada da minha infância, que eu comecei a moldar minha personalidade. Ou melhor, moldaram. Até hoje escuto gente dizer que sou misteriosa demais. Falo, falo tanto e nada explico. Nada conto. Dou detalhes breves da minha vida, tentando não aprofundá-los. E, às vezes, nem dou. Principalmente do meu psicológico. Quer dizer... Do lado bom. Porque o ruim, o mais sádico e vingativo, rancoroso e amargo, é bem notável, creio eu. Gosto de falar sobre mim, mas é como se meu próprio inconsciente não permitisse isso. Quase como se não quisesse ser descoberto, sendo, por esse motivo, que outras pessoas, que não sejam minhas amigas, não conseguem entender nada de mim, enquanto falo ou tento explicar.
 Na última estrofe, Edgar fala da onde veio tal coisa, mas não exatamente o quê. Há várias interpretações e, bom, como é o meu blog, fico com a minha: Nas mais variadas formas de inspiração, eu, ele, e qualquer outra pessoa como nós, preferiu a tragédia. O macabro, o distante. O solitário e o triste. Porque é o que as pessoas compram, no final das contas.
 Alegria é um sentimento lindo, mas tristeza é algo ainda mais belo, simplesmente porque há comoção de todas as partes que tomem conhecimento dela.

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