domingo, 21 de maio de 2017

Um tempo para mim.

 Uau, faz muito tempo que não apareço por aqui.

 Faz muito tempo que não me sento e não penso com meus botões sobre o que acontece na minha cabeça, a partir do que está acontecendo na minha vida. E não, isso não é um diário; mas é um recanto para os meus pensamentos e um registro para consultas futuras, para o caso de eu ter falecido antes dos trinta ou estar saudosa e nostálgica aos quarenta, ainda com acesso à internet e cercada de cachorros, acompanhada de uma boa xícara de chá numa noite fria, como a nesta em que escrevo, do dia vinte e dois de maio de dois mil e dezessete.

 Gostaria de dizer que conquistei coisas incríveis nos últimos anos, que descobri novos mundos e me conheci mais do que nunca. Gostaria de dizer que fiz novas amizades importantíssimas, que ascendi no meu antigo emprego, que viajei a lugares exóticos e que fiz coisas extraordinárias.

 Mas não. Eu não sei mentir. Nem gosto. Nem quero fazer isso.

 Mudei muito, é verdade. Deixei de ser a garota introspectiva de sempre, para ser um pouco mais sociável e comunicativa. Continuo sendo difícil para lidar com assuntos banais e supérfluos, mas quanto ao resto, eu me adaptei. Adotei um novo cachorro, vira-latinha, chamado Yoda; que no momento deste texto, encontra-se cabisbaixo e preocupa-me devido a isso. Aprendi coisas variadas no colégio; escolas literárias, genética, estatística e probabilidade, economia, direito constitucional, trabalhista, societário, tributário. Filosofia, estudei ética e moral, felicidade. Sociologia, Marx, Durkheim. Geografia, geopolítica. História, fatos recentes e que marcaram nossa era. Afundei em Contabilidade, me perguntando se teria sido melhor ir ver o filme do Pelé cursar Meio Ambiente. Ingressei no inglês também, não escutando as recomendações de minha orientadora e recusando o Nível Avançado, para iniciar no básico. Larguei, porque não me sentia estimulada. Continuei estudando por conta própria. Inventei de aprender alemão. E sabe por quê?

 Porque vi Rammstein ao vivo. Vi Disturbed, HOLLYWOOD UNDEAD, Halestorm e Marilyn Manson também, mas a banda alemã me inspirou a aprender o idioma do meu amado Nietzsche. Posteriormente, aprendi a gostar de Faun. Die Toten Hosen. Decidi me aprimorar no idioma por conta da maior figura de inspiração que eu poderia ter no momento: minha professora de Língua Portuguesa, que batalhou pela minha sala durante nossos quatro anos sob seus ensinamentos. Uma das mulheres mais incríveis que tive o prazer de conhecer na minha vida. E tenho dito. Aliás... Claro que conhecer todas estas bandas importantes para mim durante a minha adolescência, só foi possível por conta do meu emprego à época. Um que começou como auxiliar na Secretaria Geral da Câmara Municipal da minha cidade e terminou na curadoria e no arquivo do Pró-Memória daqui também. Lugar que aprendi a amar com todas as minhas forças; lugar que me acolheu quando eu era apenas um ser extraviado e alheio, incompreendido no meu próprio meio, que não encontrava abrigo em plano algum. Lugar que me serviu de lar nas horas mais sombrias e de recanto quando tudo que eu precisava fazer era me distrair e manter minha mente focada em algo; fosse em conversas casuais ou ensinamentos sábios do meu antigo chefe. Este que eu também só conheci devido a um gestor igualmente magnífico, que também me ofereceu apoio nos momentos mais críticos que uma Menor Aprendiz, num mundo de gigantes corporativos, poderia enfrentar.

 Ainda falo demais. Quero dizer, ainda escrevo demais. Talvez porque não ande fazendo isso com frequência; na verdade, ando acumulando tudo que sinto. E isso não me faz bem, é verdade. Já não sou mais tão íntima do papel e da caneta, como era antes; agora os uso apenas para estudar. Estudar. Estudar. Empurrar informação no meu cérebro. Me preparar para concursos e vestibulares. Estes dos quais sinto um medo terrível, é verdade; estes que me fazem questionar-me internamente sobre meu futuro, de modo que eu acabe aos prantos cada vez que penso nestes detalhes acerca do que me aguarda lá na frente, mesmo que eu saiba que são testes feitos apenas para dinamizar ainda mais a exclusão social.

 É notável que também tornei-me militante. Apoiadora de causas com as quais, aos quinze, nunca me imaginei envolvida: identidade de gênero, política, economia, raça, feminismo. Adotei uma postura que nunca pensei antes, que pudesse ter. Deixei de engolir piadas racistas, homofóbicas e machistas. Saí de casa ao ser contrariada por fazer isso. Retornei ao lar quando quase desmaiei de fome. Aprendi mais sobre as religiões e passei a me esquivar dos intolerantes, por já ter sofrido com eles. Conheci também pessoas que apoiam minhas causas; pessoas que apoiam meus sonhos e acreditam no meu potencial. Mesmo que eu ainda duvide dele, afinal, veja só você: eu ainda misturo todos os assuntos por não saber como me conter. Como me controlar ao desabafar. Ou só ponderar mesmo.

 Fiz coisas que há muito desejava, também. Como cursar Auxiliar de Veterinária e ir a um show do The Pretty Reckless em SP. Conquistei meus dezoito anos e a carta de motorista ficou para trás; moldei o caráter do meu irmão e consegui trazê-lo um pouco mais para o lado "Nath da Força". Fui sozinha a lugares, voltei sozinha deles também. Arrumei relacionamentos para tapar-buracos, fui step de outras pessoas. Fracassei em novas interações sociais que envolvessem drogas ou bebidas; nunca tolerei isso. E não é agora que tolero. Passei a temer mais as ruas da minha cidade, deixando de ser tão imprudente quanto era aos quinze.

 Ainda assim, continuo sendo quem eu era. Não é o que dizem, afinal? Que alma é alma. Que temos um corpo e SOMOS um espírito. E é nisso que acredito. Sendo que, aliás, eu ampliei as minhas crenças, concentrei meus estudos nas minhas doutrinas e...

 É. Eu continuo sentindo e escrevendo demais.

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